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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

[Opinião] “Borboletas Nocturnas” de Karl Manders (Civilização Editora)



Sinopse:

Borboletas Nocturnas conta-nos as histórias paralelas de um pai e de um filho, separados ao longo dos difíceis anos do Pós Segunda Guerra Mundial. O pai, Cornelius, um comerciante holandês, foi libertado de Auschwitz, preso pelo exército russo sob a acusação de espionagem, deportado para Minsk e Moscovo para tocar numa banda de jazz, para depois ser enviado para um Gulag onde encontra o filho que praticamente desconhece. O filho, Dolboy, foi criado por uma tia numa quinta na Holanda, onde passava os dias a correr pelos campos. Um dia a sua corrida levou-o a um castelo habitado por borboletas nocturnas e por uma estranha rapariga que faz a criação destes animais. Original e absorvente, Borboletas Nocturnas é um romance sobre pessoas que são constantemente obrigadas a improvisar na vida, sobre regeneração e coragem para agarrar oportunidades.

Ficha Técnica:

Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 314
Editor: Livraria Civilização Editora
ISBN: 9789722624947

Opinião:

Este é um livro muito surpreendente. Karl Manders utilizou as suas próprias experiências para criar um livro extremamente realista.
Em “Borboletas Nocturnas” acompanhamos a trágica história de um pai e de um filho, a qual foi marcada pela Segunda Guerra Mundial. A verdade crua acerca do Gulag é mostrada e o grau a que um ser humano consegue descer para sobreviver e os efeitos que isso tem numa pessoa. A sinopse fica muito além da qualidade que o livro apresenta.
Falemos das personagens. Cornelius é um homem bondoso que acaba envolvido numa situação complicada e acaba por pagar na pele por algo que não fez. Assistimos à destruição dele, passando a ser apenas uma sombra do homem que era. Dolboy, o filho, começa como um bebé e acompanhamos o seu crescimento até se tornar um homem diferente do que o seu pai era, mas também ele bondoso. Assistimos a sua evolução, a adolescência e a descoberta da sexualidade. As personagens secundárias estão pouco desenvolvidas e acabam por servir de plano de fundo a toda a história.
 Quanto à forma de escrever do autor, é bastante directa e forte. As descrições são curtas e directas: “Dolboy olhou para o espelho e viu um quarto iluminado por candeeiros com quebra-luzes de franjas em tons pastel. Viu paredes às riscas verde-musgo e rosa, pontuadas de estampas de querubins: querubins com lágrimas nas faces, querubins a lamber compota das colheres de pau, querubins com punhados de flores, inocentemente rasgadas. Habitava um reino de criaturas encantadoras, reunidas para lhe recordarem do seu propósito que era a representação de uma vida irreal, a vida de um brinquedo. Olhou para o espelho e viu uma criança imaculada, com delicado cabelo a esvoaçar em ondas esculpidas, as maçãs do rosto cheias e perfeitas, os lábios lembrando uvas sobre um queixo marcado por uma covinha. Olhou para os espelhos dos seus olhos espelhados e deleitou-sena inocente ventura de nada desejar. E depois tudo desapareceu.”
É um livro viciante e de fácil leitura.